Naná: a vida não termina no túmulo
O filme Divaldo, o mensageiro da paz, em cartaz nos cinemas nacionais desde último dia 12, traz o tema para reflexão, em dois momentos importantes, no roteiro do diretor e produtor Clóvis Mello (Cine). Primeiro, Divaldo Franco, ainda criança, convive com a tristeza da família pela perda da irmã Nair, através do suicídio, a Naná (Alice Guêga). Depois, já adulto, transtornado pela obsessão, Divaldo se vê desesperado e corre pelas ruas, subindo na mureta de uma ponte para tentar o suicídio.
Mas quem espiritualmente lhe aparece? Naná, ainda com as marcas do veneno que ingerira para se suicidar, aconselhando-o a desistir na ideia, avisando-o de seus sofrimentos, em função do ocorrido quando, jovem, não suportara a vergonha de haver sido traída pelo marido.
Em entrevista a Magali Bischoff (Zook Comunicação), para o Correio News, a atriz, que também já pensou em suicídio e teve sua primeira participação no cinema, teceu considerações importantes sobre o tema e sua personagem no filme.
Como surgiu o convite para fazer o filme? E qual a sensação que teve ao contracenar com atores experientes no seu primeiro trabalho para o cinema?
O convite veio após eu ter feito um teste presencial com Clovis, na Cine.
Foi um privilégio muito grande. Tiveram um cuidado muito carinhoso e receptivo comigo. O olhar deles em cena me passava segurança e calma ao mesmo tempo. Ótimo para acalmar os nervos e a ansiedade da ‘marinheira de primeira viagem’.
Você chegou a conhecer Divaldo e visitar a Mansão do Caminho em Salvador?
Sim, da primeira vez que fui à Mansão tomei um susto, com a grandiosidade do lugar. Divaldo tinha acabado de chegar de uma viagem e eu pude tomar um café muito bem-humorado junto a ele e aos funcionários da Mansão. Conversamos um pouco sobre o filme e ele, carinhosamente, ficou me chamando de Naná.
Você tinha algum conhecimento sobre o espiritismo antes do filme? Qual a sua percepção sobre a importância em fazer filmes com essa temática?
Sim, a maior parte da minha família é espírita e meus pais são atuantes nos centros que frequentam em Salvador. É importante conseguirmos olhar para a temática espiritual como olhamos pra qualquer outro gênero do cinema. O senso comum sobre religiões infelizmente segrega as pessoas de diferentes crenças, quando na verdade o melhor é poder evoluir com as diferenças. A história não tem nenhuma pretensão de pregar a doutrina, não existe um teor dogmático, e sim uma oportunidade de reflexão e questionamento.
Como foi a sua pesquisa da personagem Nair, que se suicida? Você já tinha contato com o tema antes?
Quando o filme Nosso Lar entrou em cartaz nos cinemas, fui assistir sozinha, e lá descobri o Vale dos suicidas e o umbral, lugares que eu nunca tinha ouvido falar. No momento, eu estava passando por várias questões pessoais e tinha pensamentos suicidas. Por conta do filme, criei uma certeza: de que o suicídio jamais seria uma opção a se considerar, visto que não cessa a dor e não ajuda em nada os seus sofrimentos terrenos, por mais insuportáveis que eles pareçam ser.
Ter a oportunidade de interpretar uma personagem que traz esse alerta sobre a vida, que não se finda no túmulo, trouxe-me a responsabilidade e a felicidade de poder dialogar com pessoas que possam estar passando por momentos similares aos que eu passei. E, de repente, incentivá-las a mudar a perspectiva sobre essa ‘saída’ – que de solução não tem nada.
Como foi viver esse personagem?
Foi uma quebra de barreiras. Eu tinha muito medo de fazer cinema – mesmo sendo o meu sonho profissional. Contando a história de Nair, eu percebi que poderia estar dando uma chance a pessoas com pensamentos suicidas de continuarem contando suas próprias histórias.
O filme foi lançado no mês de setembro, durante o período da campanha de prevenção ao suicídio. Você acha que as pessoas poderiam aproveitar para levar ao cinema jovens ou pessoas que estão deprimidas para que tenham uma oportunidade de repensar o sentido da vida?
Não só aquelas que estão passando por fases depressivas e ideias suicidas, como quem está ao lado dessas pessoas, convivendo e passando junto por esses momentos. A compreensão coletiva sempre traz frutos mais potentes. É importante se dizer que a depressão e as ideias suicidas não se limitam àquelas pessoas em situações mais agudas e perceptíveis. Elas são mais comuns que imaginamos. Por isso a importância do filme, para podermos abrir o diálogo sobre esses temas e conseguir dissolver essas energias que nos afastam do caminho do amor.
Acredita que a história traz uma mensagem inspiradora sem distinção de idade, crença ou religião?
A história de Divaldo é uma mensagem que vale a pena ser ouvida por qualquer ser humano, sem distinção nem de plano vibratório (risos). Assistir ao filme com certeza trará ao menos um momento de reflexão de cada um sobre si mesmo.
Prestigiar o cinema brasileiro é um ato de amor à nossa cultura. E nenhum povo sobrevive sem histórias pra contar.
É importante prestigiarmos esse belo trabalho, principalmente logo agora nas primeiras semanas, para que ele permaneça em exibição e a mensagem chegue a muito mais pessoas.
Extraído do site Correio fraterno News
(Apoio: Zook Comunicação)